ads-geral-topo

Vamos emprestar dinheiro aos hermanos!

Recentemente o novo governo começou a avaliar um possível empréstimo para a construção de um gasoduto na Argentina (extremamente poluente, diga-se de passagem), bem como no financiamento de outros parceiros na América Latina. Parece um negócio dos sonhos, afinal o Brasil poderia emprestar os valores e reaver o principal mais os juros, no entanto, tal […]

3 mins de leitura

em 01 de fev de 2023, às 10h01

Recentemente o novo governo começou a avaliar um possível empréstimo para a construção de um gasoduto na Argentina (extremamente poluente, diga-se de passagem), bem como no financiamento de outros parceiros na América Latina. Parece um negócio dos sonhos, afinal o Brasil poderia emprestar os valores e reaver o principal mais os juros, no entanto, tal argumento é utilizado para ludibriar o povo brasileiro.

Vamos aos fatos, durante a gestão petista o BNDES financiou algumas obras de infraestrutura em Angola, Cuba, Venezuela e outros países. Parecia tentador ajudar nossos “irmãos”, contudo, o Brasil foi caloteado em muitos desses empréstimos. Alguns podem dizer que a o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) cobriu o rombo, entretanto, quem financia o FGE é o próprio Tesouro Nacional. Portanto, sim, você e eu pagamos a conta dessa farra.

Caso a explicação técnica não tenha convencido, cabe usar uma analogia. Imagine uma família que passa por necessidade, o teto está desabando e as crianças não tem o que comer. Repentinamente, o sustentador da família (seja lá quem for), escolhe emprestar uma parte do salário para um primo distante, conhecido por ter o “dedo podre’ e não honrar suas dívidas. Qualquer pessoa condenaria a atitude, não é mesmo?

Se emprestar dinheiro para a América Latina fosse tão bom, por qual motivo não vemos os norte-americanos, europeus ou japoneses investindo na Argentina e demais países em dificuldades? Simples, além da questão política, não há nenhuma garantia de que os argentinos pagarão o valor firmado, visto que eles mal possuem dólares e não apresentam qualquer segurança jurídica para os credores.

“Mas Rafael, a China financia vários países em desenvolvimento”. Claro que os chineses emprestam dinheiro, mas vocês acham que isso é feito de graça? Pelo contrário, a política da China é tão predatória que, se o país não conseguir pagar pelas obras, a infraestrutura é executada e passa a ser gerida pelo governo chinês. Logo, mesmo perdendo dinheiro com o calote, a China passa a exercer influência política em outra nação e pode utilizar o ativo de forma estratégica.

Diferente da China, o Brasil não impõe esse tipo de cláusula e tende a perdoar os valores devidos. Mesmo se quiséssemos tomar à força o que fora construído com o dinheiro do contribuinte, nosso exército não teria capacidade para tal.

Para complementar, o gasto brasileiro com infraestrutura é algo em torno de R$20 bi, insuficiente para repor a depreciação das obras já existentes, muito menos modernizar o país. Ou seja, o atual governo acha mais importante emprestar recursos para os vizinhos (e com altas chances de ser caloteado) enquanto negligencia a própria pátria, a qual 50% sequer tem acesso a saneamento básico, quiçá estradas e aeroportos de qualidade.

Por mais surpreendente que os mesmos erros do passado estejam sendo cometidos no presente, é inacreditável ver alguns conterrâneos apoiando medidas danosas contra si mesmos. Tal como o (a) pai/mãe de família, que negligencia a estrutura do lar e a saúde dos filhos em prol do primo caloteiro, o governo brasileiro age da mesma forma ao ignorar a infraestrutura interna precária.

Rafael Altoé Frossard é mestrando em Administração pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e apaixonado por Economia. 

As informações/opiniões aqui escritas são de cunho pessoal e não necessariamente refletem os posicionamentos do AQUINOTICIAS.COM

Receba as principais notícias do dia no seu WhatsApp e fique por dentro de tudo! Basta clicar aqui.

ads-geral-rodape