Vi um filme, dia desses, chamado A chegada. A trama toda gira em torno de uma linguista, interpretada pela linda Amy Adams, que tenta descobrir quais são as intenções dos extraterrestres que pousaram suas naves em vários pontos do planeta. Para isso, ela aprendeu o idioma deles. O filme mostra como a linguagem pode influenciar o modo de pensar dos indivíduos. Quando a doutora Louise Banks (Amy) conseguiu entender a estrutura da língua dos extraterrestres, ela ganhou uma perspectiva nova, abriu-se um novo universo na mente dela. No final, prepare os lencinhos. Mais eu não conto, senão é spoiler. Mas vale a pena assistir.
“Eu pensava que este era o começo da sua história.Mas agora eu não sei se acredito em começos e finais. Existem dias que definem sua história além da sua vida.”
Doutora Louise Banks
Depois de ver o filme, fiquei pensando no que está acontecendo conosco, neste momento. Diga-me: nos últimos cinco ou seis meses, você passou um dia, um dia sequer, sem ouvir ou ler as palavras coronavírus ou Covid-19? Não sei se acontece com você, mas ao encontrar um conhecido na rua, ao invés de falar o velho “nossa, e esse tempo, heim? Tá louco!”, agora eu falo “e o coronavírus, quando isso vai acabar?”. O novo vírus, mais do que uma doença, mudou nossa forma de pensar, se entranhou nas nossas mentes e a ameaça, antes física, agora é mental. Foi quase como aprender uma nova linguagem.
Será que estamos fadados a falar dele todos os dias, até que encontrem uma vacina ou a cura? Claro que é um momento trágico ou, como dizem, somos testemunhas oculares da história. Claro que choramos os mortos e os doentes. Claro que queremos que isso acabe o mais rápido possível. Mas, talvez não vai acabar. E aí, vamos nos deixar adoecer mentalmente pelo inimigo invisível?
Sei também que as autoridades dizem que não é momento de baixar a guarda, de reabertura. E a gente bem sabe que tem de tomar as precauções. Mas não podemos nos render a essa nova palavra que surgiu no nosso vocabulário. Vamos dar o peso certo a ela. É uma doença séria, que precisa ser estudada e tratada (como tantas outras que estão ou estiveram entre nós). Mas não pode nos dominar. Falam tanto no novo normal e, esse novo normal é saber conviver com o coronavírus. Saber que ele existe, é grave, mas não tem poder de balizar nossos pensamentos.
Um dia, tenho fé, a Covid-19 e o coronavírus serão apenas verbetes envelhecidos nos nossos dicionários. Até lá, tomaremos cuidado, claro, mas não nos deixaremos dominar por eles.
Bom, foi muito legal encontrar você… e esse tempo, heim? Cada dia mais louco!