O Brasil enfrentou o pior momento da pandemia do novo coronavírus neste mês de março que teve em 31 dias, 66.868 mil mortos pela doença e registrou recorde na última quarta-feira com 3.950 mil óbitos em apenas um dia. Até este sábado (3), o país já contabilizava 330.193 mil brasileiros que foram vencidos pelo vírus e perderam a vida.
Os dois números são os mais altos registrados no Brasil desde o início da pandemia. Em um comparativo de números absolutos, com as médias de outros 10 países que lideram o número de mortes, o Brasil ultrapassa a somatória de todos juntos. Mas, a situação ainda continua crítica em outros países como, por exemplo, na Itália, que nesta segunda onda já registrou mais de 70 mil óbitos pela doença.
A contadora cachoeirense Cristiane Barone, 50 anos, mora há três anos na cidade de Verona, mais especificamente na Comune Peschiera del Garda, junto ao seu marido André Luiz Diniz Silva, e não pretendem voltar ao Brasil. Ela relembra que na primeira onda houve um grande tumulto, pois as pessoas não sabiam da gravidade da doença, com corrida aos supermercados e escassez de alguns produtos.
“Foi horrível! As pessoas não sabiam exatamente o que estava acontecendo, e na época foi o país com maior número de mortos, mais de 17 mil óbitos. Porém o controle sempre foi muito rigoroso, não podíamos sair das nossas casas, a não ser para trabalhar, ir na farmácia, hospital e supermercados”, relembra Cristiane.
A Itália, assim como toda a Europa, chegou a ter um período de baixa nos casos da Covid-19, porém, devido a circulação de uma nova cepa da doença, as restrições recomeçaram em muitos países. Hoje, a Itália está com lockdown decretado, não podendo circular nas ruas após às 22h, e outras medidas restritivas.
“Estamos em lockdown também, com restrições, só que um pouco melhor. Alguns não estão respeitando o lockdown, fazem festas e tudo mais, só que as multas são severas e podem chegar a aproximadamente 1.000 Euros, dependendo da gravidade”, diz a contadora.
Menos restrições
Morando há seis anos no Canadá, em Ontário, o casal cachoeirense Tainã Cunha, 35 anos, e Fernando Missi Xavier, 33 anos, presencia a pandemia no país desde o início. Eles trabalham em home office como medida protetiva contra o coronavírus, uma recomendação da empresa que prestam serviço.
Tainã relembra que, diariamente, ao meio dia, o Primeiro Ministro (que atua como Presidente), fazia um pronunciamento de como a população deveria agir diante do, até então desconhecido vírus. Com o passar do tempo as localidades foram separadas por cores de acordo com a gravidade e quantidade de casos e contaminação e estágios.

“Foi bem complicado no começo, pois a cada semana era uma ordem diferente que ia desde lockdown à reabertura de alguns locais e serviços. O Governo Federal criou e apresentou os programas de auxílio financeiro à pessoa física e jurídica. As pessoas ficaram meio desesperadas e praticamente esvaziaram os supermercados”, conta Tainã.
Durante a época de festas de fim de ano foi declarado um novo lockdown, como medida preventiva. Em seguida, muitos serviços voltaram a funcionar com capacidade reduzida. Empresas sustentaram a decisão por manter os funcionários em home office até que todos sejam vacinados.
“A gente sai apenas para supermercado. Inclusive muitas pessoas implicam com a gente por isso, mas eu tenho a consciência tranquila de fazer o mínimo – a nossa parte – com muito respeito a quem está na linha de frente, enfrentando a pandemia em hospitais, serviços essenciais, e também pelas famílias que foram afetadas diretamente pelo vírus”, explica Fernando.
Medidas como o controle de viagens internacionais, isolamento de pessoas que chegam ao país, viagens de turismo proibidas e a preocupação do governo canadense foram ações essenciais para conter o contágio e para que a doença hoje, de alguma forma, esteja mais controlada no Canadá, relembra Tainã.
“Eu acredito que em primeiro lugar o empenho do Governo Federal e Estadual em manter a população informada e a rapidez em preparar medidas para dar suporte financeiro aos empreendedores, empresários, trabalhadores e população em geral (incluindo turistas e estudantes estrangeiros) foi essencial para que grande parte da população entendesse e tivesse a dimensão da seriedade do vírus e da pandemia”, afirma.
Covid zerado
Em uma realidade totalmente diferente, a Austrália conseguiu conter a pandemia da Covid-19, após zerar o número de casos em janeiro deste ano, adotando medidas restritivas e um severo lockdown para conter o avanço da doença.
O engenheiro de software cachoeirense Thiago Salvador, 32 anos, e sua esposa, Ana Carolina Salvador, puderam viver o caos e também o alívio no país. Ele relata que a maioria esmagadora da população acatou todas as medidas e respeitou as restrições estabelecidas, pensando no próximo e na comunidade em que vive. Porém, assim como todos países, sempre há quem discorde, não respeite o próximo e muito menos as regras.
“Aqui não foi e não é diferente. Houve alguns problemas pelo país, como praias lotadas, porém medidas sérias, multas e punições extremas foram tomadas nesses casos, como fechamento da praia por tempo indeterminado”, destaca Thiago.



Morando no país há dois anos, o casal buscou sair da zona de conforto e buscar novas experiências quando optaram pela mudança a cidade de Sydney, em New South Wales. Hoje com residência permanente, eles afirmam que a Austrália é o lar deles.
Em um comparativo com a pandemia no Brasil, Thiago destaca que população da Austrália representa pouco mais de 10% da população brasileira, e em extensão territorial o Brasil é o 5º e a Austrália o 6º maior país do mundo, sendo a densidade demográfica do Brasil 23,8 habitantes por km² e da Austrália apenas 2,7 habitantes por km².
“Diante destes dados, podemos dizer que logo a aglomeração de pessoas é muito mais fácil de se monitorar e prevenir aqui. É importante salientar que, além da Austrália ser um país rico, em que a desigualdade social é baixíssima, o governo pode auxiliar a população de baixa renda e também as empresas para manter a economia viva por um bom tempo”, afirma.
O engenheiro de software acredita que o que mais tem prejudicado o Brasil é a guerra política entre esquerda e direita, incluindo mídias, governantes e população, além da falta de união de todos. Enquanto na Austrália, o foco de isolamento social sempre foi pessoas dos grupos de risco. Quem podia trabalhar remotamente, assim o fazia.
“Eu estou trabalhando remotamente desde o início da pandemia, enquanto muitos continuavam mantendo suas rotinas com algumas restrições, sempre respeitando o distanciamento social e uso de máscaras. No momento do pico das duas ondas, medidas restritivas mais fortes foram tomadas, porém tudo com base no número de infectados de cada região”, finaliza.